terça-feira, 27 de maio de 2008

Rosemarie virou política. Heitor, chefe de almoxarifado. A vida seguiu caminhos distintos, mas o gosto por tomar cerveja em copos de vidro... nunca mais foi mesmo. O bailinho no clube da cidade era igual a todos os outros. Ela, de brinco de pérolas e franja meio suada, já colada na testa, erguia o bilhete ao garçom. Do outro lado do balcão, paninho jogado por cima do ombro, prontamente o pingüim de gravata borboleta pegou a cerveja do refrigerador.

O barulho efervescente encheu o copo e enevoou as estrias, provando por a mais b que a temperatura da bebida era tudo aquilo que ela esperava. “Mulher que bebe em balcão? Não com esses trajes, esse cabelo, essa postura”, pensou Heitor, encostado no pilar. Observava Rosemarie há poucos segundos e já havia formado uma profunda opinião sobre ela. “Deve ser uma cocotinha burra que acha que pode ser rude só para mostrar que sabe fazer algo além de falar sobre novela”. Rosemarie acendeu um cigarro, virou-se, esfregou as costas no balcão. Ainda não havia reparado no moleque bestinha que fazia pose de superior mesmo enfiado numa camisa brega com um cinto ainda mais lamentável.

“Não combinam, ao menos deve ter se vestido sozinho”, pensou e riu. Tragou, cuspiu a fumaça e deu mais um gole. Enquanto degustava a cerveja em meio a pensamentos aleatórios, três garotas de saia se empoleiravam ao seu lado, cada qual retirando uma garrafa de Fanta e canudinhos. As risadinhas agudas e descompensadas mostravam que certamente vieram ao baile por causa de algum garoto. Era toda vez a mesma história, ficar de bobeira, esperando num canto até algum rapaz vir convidar para dançar. Para evitar essa situação deprimente, Rosemarie era precavida: trazia sempre o Antenor a tiracolo.

Rose e Antenor dançavam juntos porque gostavam de dançar e não porque gostavam um do outro de modo romântico. Vinham no Fusca do pai dele, com rádio ligado no máximo, buzinando para todos os pedestres e cachorros de quatro patas que transitassem pelas calçadas. Ninguém entendia muita coisa, mas era certo que eram apenas amigos. Até porque, a cada duas ou três danças, Rose dava uma folga, ia buscar sua própria cerveja e o pé de valsa tinha carta branca pra dançar com quem quisesse.

Olha lá, e não era o Antenor no meio do salão com uma das meninas da Fanta de canudinho? Acenou com a cabeça e o parceiro no crime respondeu com uma piscadinha, mostrando a língua de modo constrangedor. “É, tio, vou ter que pegar um táxi”, disse, se debruçando sobre o balcão. O garçom lavava copos e sequer ouviu, ou fez que não ouviu. Ela apagou o cigarro, verificou os pertences na bolsa e saiu em direção à porta. Nem mesmo o garçom estava lhe dando atenção, achou melhor ir embora para casa.

Sentado na escada, olhando o movimento da rua, Heitor bebericava direto da garrafa. Pousou-a para coçar a perna e só ouviu o estilhaço, seguido de um palavrão. “Meeeerda”. Era a pseudo-rebelde do balcão que acabava de chutar a cerveja. “Eita, tansa”, falou sem perceber que estava pensando alto. “Tansa é a tua vó, que te dá essas camisas de Natal”, respondeu Rose. Ela xingou o sapato e desceu os degraus restantes desviando dos cacos e ajeitando o cabelo.

“Eii, a minha cerveja!”. Heitor era filho único e, portanto, do tipo mimado. “Estava na metade e eu ainda quero o resto!”. Rosemarie parou no meio da brita. Abriu a bolsa, tirou o porta-moedas e se voltou em direção ao infeliz da escadaria. “Compra outra e vê se aprende a usar copos”, resmungou, estendendo a pilha de moedas. Heitor colocou as mãos no quadril, fez cara de cínico e lançou o desafio. Se era para beber no copo, que ela ensinasse, que fosse lá dentro comprar e mostrasse as maravilhas de ser uma pessoa teoricamente civilizada.

Comprou a cerveja, pediu dois copos e voltou para o topo da escada. Encostou o tronco na parte fechada da porta e serviu o moleque malcriado. Ele ergueu a taça como quem pedia um brinde, mas ela ignorou, reparava nos traços do pretensioso com quem agora dividia a cerveja. Muito magro, cabelo um pouco desgrenhado, nada de barba. Ele percebeu o interesse da garota e se sentiu bem. “Qual sua novela preferida?”, perguntou Heitor, em tom irônico.

Quatro a cinco cervejas depois, entre garrafas buscadas por ela ou por ele, descobriram que ela não gostava de novelas, que ele realmente não sabia se vestir, que torciam pro mesmo time de futebol. Tinham o mesmo senso de humor, por isso riram, gargalharam e trocaram olhares... várias vezes. Nisso, o sol já havia baixado e agarrado na menina da Fanta, lá vinha Antenor, tentando descer a escadaria sem tropeçar.

Ao longe, um idiota qualquer encostado numa Brasília começava a esbravejar. Aline tinha namorado. E o namorado era burro feito uma mula, mas grande feito um cavalo. Antenor, coitado, estava mais para pangaré. Naquela noite, apanhou muito, perdeu dentes, rasgou a camisa e foi humilhado defronte o Clube. Pior de tudo, fez Rose deixar para trás os copos de cerveja na escadaria.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Aió, Silver


Bem, o quero dizer neste breve post é que a brevidade faz parte urgente e latente da nova vida… Não uma brevidade superficial como um piscar de olhos, mas uma brevidade complexa que mescla momentos de brilho e obscuridade…

Esta vida, às vezes parece uma corrida de cavalos. Porém, somente pangarés, que capengam e sofrem para superarem uns aos outros, sendo que mesmo que um vença, ainda será um pangaré. Acho que cheguei ao ponto crucial deste devaneio poeril: todos somos selados… Uns para a vitória, outros para a derrota e raros são os sortudos torcedores e apostadores nesses miseráveis coadjuvantes…

Para quem quis ser breve, excedi na acidez. Porém, não pequei na falta de lucidez… e só pra dizer que fui… Xau

quarta-feira, 7 de maio de 2008

terça-feira, 6 de maio de 2008

Love is just a game


The Magic Numbers sussurra, quase soluçando, a canção matinal para o dia de hoje. I'm an honest mistake that you made, did you mean to. Logo após, o refrão diz que o amor é só um jogo, uma mentira e que acontece o tempo todo. Até não duvido. Acho que ainda não captei bem esse negócio de amor. Diria o Chaves que sou jovem ainda, jovem ainda... mas um dia velha serei. O pior é que, com o passar do tempo, as minhas teorias sobre esse tal sentimento estão cada vez mais capengas.

Apaixonar e desapaixonar. Esse lance aparece nas minhas histórias quase sempre de maneira bastante singela. Às vezes rápida, constantemente rasteira. Só que paixão e amor estão dentro daquela máxima filosofia de boteco, né? Aquela, que diz que uma coisa é uma coisa, que outra coisa é outra coisa e que focinho de porco não é tomada.

Por longo tempo, era convicta de que amor *de verdade* era aquele que dura pela vida toda. Sabe? Tipo amor de mãe por um filho, que por mais esquisito que seja, é todo ímpar e especial. Ou o amor que a gente sente por um bichinho de estimação. Se ele morrer, podem vir a existir outros bichinhos, mas a lembrança e o carinho jamais serão os mesmos.

Tá, daí um dia, depois de curtir muita galinhagem, resolvi tentar descobrir o tal do amor na prática. Fui me meter em namoro "sério". Só que a primeira experiência... baita frustração! Nem paixão não tinha! Foi triste e perigoso. Ao menos, descobri que teimosia pouca é bobagem, a gente não aprende a gostar de ninguém por osmose. Por mais que a pessoa goste de ti e acredite que possa fazer sua cabeça, não adianta. É chato, mas é assim que as coisas funcionam.

Acho que se for pra relatar o amor na sua forma mais pura e misteriosa, creio que tenho uma memória posterior que me ajuda. Envolve fazer amor. Sem muitos detalhes, pq esse blog não é kinky. Mas se resume em quase respirar uma pessoa, sentir o que ela sente e ouvir o mundo redondo alheio, girando. Até as cores derretiam, a sensação era de que tudo podia acabar e que nada mais importava.

Por falar em acabar, o relacionamento que promoveu tamanha experiência sinestésica acabou. O que me confunde outra vez, pq se era amor, o combinado não era de ser para sempre?!

Bom, vou ser ríspida e dizer que os contos de fadas estão todos errados. Os filmes românticos também. Hoje, vou acreditar na definição de amor dos Magic Numbers: just an honest mistake that you make. And that you mean to. E pronto. Por hora basta.